quarta-feira, 15 de setembro de 2021

Análise do conto AMOR, de Clarice Lispector

Análise do conto AMOR, de Clarice Lispector

"O cego mascava chicles… Um homem cego mascava chicles." Eis o choque da protagonista, uma mulher dedicada a família (e que - basicamente - só fazia isso, vivendo para a família), o cego a afeta bem na sua "hora perigosa" (com mais tempo livre para se analisar e refletir). Era a pedra no seu caminho, o cego "mascando chicles". 

"O movimento da mastigação fazia-o parecer sorrir e de repente deixar de sorrir, sorrir e deixar de sorrir — como se ele a tivesse insultado" - Como pode um cego feliz? Ele estava zombando dela? E ela, que havia escolhido tudo em sua vida, se questionando, parecendo para si mesma menos feliz que o cego? A inquietação e a incerteza crescente, pelo poder da narrativa bem construída, chega até ao leitor. Nossa heroína se perde da rotina, derruba as compras, seu coração acelera. O cego a afeta em demasiado.

O título do conto, "Amor", se mostra no abraço ao filho, na escolha de manter sua vida exatamente como era, mesmo consciente das suas consequentes renúncias. O conto termina com o retorno a esse amor, ao lar. O cego - a dúvida - não abandonaria os pensamentos da protagonista-heroína, mas o dia acaba junto com o texto e ela "Antes de se deitar, como se apagasse uma vela, soprou a pequena flama do dia."

Um dos melhores contos de Clarice.

 

Referências: 

LISPECTOR, Clarice. “Amor” in. Laços de Família. Rio de Janeiro: Rocco, 1998. 

GANCHO, Cândida. Como analisar as narrativas. São Paulo: Ática, 2006. 

(Clique aqui para ler o conto online sem erros no meu projeto A Magia da Poesia)

Ensaio sobre o conto O COBRADOR, de Rubem Fonseca

 

O COBRADOR





Disciplina: Teorias da Narrativa

Nome do aluno: Fabio José Alfredo Santos da Rocha

Curso: Letras - Português Literatura
Professora: Maria Cristina de Oliveira Prates

AVA 2

 

 

 

RIO DE JANEIRO – RJ

 

2021

Escrevo vendo o jornal local na TV. Ministério da Saúde segurando as vacinas contra a COVID. Sinais de trânsito há cinco semanas sem funcionar no Méier. Trens em Japeri sem poder passar por causa de furtos. Assassinato de uma adolescente em baile funk ilegal na Vila João, em plena pandemia, Japeri contratou sem licitação uma empresa que distribuiu kits de comida com larvas... Alguém não deveria cobrar por tudo isso? O conto “O cobrador” é o primeiro do livro homônimo de Rubem Fonseca. Um choque de realidade. Visceral, intenso, direto e absurdamente atual. O cobrador surge do povo que sofre, que é roubado pelo governo, abandonado pelos pais e abraçado pelo caos da sociedade com muita desigualdade. Nasce como uma flor assassina, distorce tudo como um Talibã tupiniquim e cobra com sangue.

São quase vinte páginas do narrador-personagem-assassino-louco dando sua visão de mundo e descrevendo o que faz e o que pensa. Esse relato é como um soco no estômago do leitor. Por que? Porque a realidade que produziu aquele maluco de físico franzino e sem limites é a nossa realidade. A sociedade dele é a nossa sociedade, nosso cotidiano. Tudo segue igualzinho.

Mas talvez o mais desconcertante do conto seja a narração. Pois entramos na visão de mundo do cobrador e conseguimos ter alguma empatia. Mesmo sendo um assassino. O colégio era ruim e demoliram, os dentes todos estragados… Imaginamos o restante de sua infância e juventude e quase torcemos por ele. Talvez porque ninguém cobre. E porque a máquina do mundo segue produzindo sofrimento e injustiça. Porque o Brasil segue matando tanta gente de fome. Porque os mais ricos em geral só se preocupam em manter seus privilégios.

O texto começa num consultório dentário, onde um dentista forte (“Era um homem grande, mãos grandes e pulso forte de tanto arrancar os dentes dos fodidos.”) arranca um dente da personagem e tenta cobrá-lo. É aí que ele se apresenta como cobrador: “Eu não pago mais nada, cansei de pagar!, gritei para ele, agora eu só cobro!” e deu um tiro de 38 no joelho dele. Logo depois, se arrepende de não ter logo matado.

A saga do cobrador segue com ele seguindo seus impulsos e vontades na cobrança: estraçalhando o para-brisa de uma Mercedes com um tiro, matando um vendedor de rádio com um tiro de sua Magnum com silenciador (que ele faz o leitor quase ouvir, com um “puf”), estuprando mulheres bonitas em casa se passando por bombeiro etc. O texto de Rubem Fonseca nos surpreende com alguma humanidade do cobrador quando mostra a relação dele com uma velhinha (Dona Clotilde) que o havia “apanhado na rua”. Passaram a morar juntos e ele a ajudava com injeções. Ainda no breve intervalo de maior humanidade, o cobrador conhece e começa a se relacionar com Ana. Logo depois, volta aos assassinatos, agora se deslocando da zona sul da cidade do Rio de Janeiro para a Barra da Tijuca, onde estreia seu facão.

O conto termina numa crescente, quando o cobrador conquista uma quase suicida. Ela o convence a aprimorar sua “missão” (que seria cobrar da sociedade, em resumo, por tanto sofrimento). Assim, bem na noite de Natal, o cobrador substitui seu 38 e seu facão de arrancar cabeças e armas menos poderosas por uma bomba, para matar muito mais gente. Passa de serial-killer a terrorista. Um detalhe muito interessante é que o cobrador se apresenta para sua musa Ana (mulher-palíndromo, linda, que não entende seus poemas) como poeta. Eu lembro deste poema de Vinícius de Moraes e agora o releio com estranhamento:



“O POETA

 

A vida do poeta tem um ritmo diferente

É um contínuo de dor angustiante.

O poeta é o destinado do sofrimento

Do sofrimento que lhe clareia a visão de beleza

E a sua alma é uma parcela do infinito distante

O infinito que ninguém sonda e ninguém compreende.

 

Ele é o eterno errante dos caminhos

Que vai, pisando a terra e olhando o céu

Preso pelos extremos intangíveis

Clareando como um raio de sol a paisagem da vida.

O poeta tem o coração claro das aves

E a sensibilidade das crianças.

O poeta chora.

Chora de manso, com lágrimas doces, com lágrimas tristes

Olhando o espaço imenso da sua alma.

O poeta sorri.

Sorri à vida e à beleza e à amizade

Sorri com a sua mocidade a todas as mulheres que passam.

O poeta é bom.

Ele ama as mulheres castas e as mulheres impuras

Sua alma as compreende na luz e na lama

Ele é cheio de amor para as coisas da vida

E é cheio de respeito para as coisas da morte.

O poeta não teme a morte.

Seu espírito penetra a sua visão silenciosa

E a sua alma de artista possui-a cheia de um novo mistério.

A sua poesia é a razão da sua existência

Ela o faz puro e grande e nobre

E o consola da dor e o consola da angústia.

 

A vida do poeta tem um ritmo diferente

Ela o conduz errante pelos caminhos, pisando a terra e olhando o céu

Preso, eternamente preso pelos extremos intangíveis.”[1]




 

REFERÊNCIAS

 

FONSECA, Rubem. O Cobrador. 4.ed. Rio de Janeiro: Agir, 2010.

O PAPEL DA LEITURA NA CONSTITUIÇÃO DO INDIVÍDUO E DA SOCIEDADE

O PAPEL DA LEITURA NA CONSTITUIÇÃO DO INDIVÍDUO E DA SOCIEDADE







Nome do aluno: Fabio José Alfredo Santos da Rocha 

Curso: Letras - Português Literatura








RIO DE JANEIRO – RJ


2021

A leitura está ligada à capacidade de interpretação de textos. E o hábito da leitura só pode existir se houver prazer em ler. Por sua vez, o prazer de ler só é possível quando parte de um desejo do leitor. E está cada vez mais desafiador estimular esse desejo, num momento histórico onde a atenção  de todos nós é continuamente bombardeada para telas, propagandas, videogames, textos curtos, elementos mais rápidos e fugazes que atraem nossa atenção quase automaticamente. Assim, o professor como estimulador da leitura tem uma missão cada vez mais difícil e importante na formação da sociedade.
Podemos pensar em dois tipos de leitura: a funcional (onde o leitor extrai os dados mais importantes do texto) e a reflexiva (essa sim sendo instrumento de formação do indivíduo e do cidadão). A leitura reflexiva é a que faz pensar e que amplia a visão de mundo. Esta é que pode ser prazerosa e ser estimulada. Para se ter prazer, é necessário compreender o que lemos. Para entender um texto, previamente, o leitor utiliza seu conhecimento de mundo (todas as nossas experiências de vida) e conhecimento linguístico (capacidade de compreender a língua que falamos).
São fatores de textualidade linguísticos: a coesão (responsável pela relação harmoniosa entre os elementos) e a coerência (responsável pela não contradição entre as partes). São fatores de textualidade extralinguísticos: a informatividade (quantidade de informações), a situacionalidade (contexto), a intencionalidade (qual a intenção) e a aceitabilidade (aceitação do leitor). Além desses, como recurso (não obrigatório), pode haver a intertextualidade (relação entre dois ou mais textos). A interpretação de gráficos e tabelas também é considerada interpretação de textos (a interpretação se dá sempre através da comparação de dados). Na interpretação de  textos publicitários (que tem por finalidade convencer alguém a consumir um produto), deve-se atentar à relação entre imagem e textos, cores, linguagem verbal e não verbal.
Quanto à interpretação de textos literários, os elementos linguísticos e extralinguísticos devem ser contextualizados e a linguagem literária deve ser destacada. Estimular sua leitura é o grande desafio para os professores de literatura na contemporaneidade. Aqui é que se pode, depois de vencer uma resistência inicial, realmente se ter prazer na leitura, encontrando o significado proposto e atribuindo novos significados aos signos expressos na mensagem do texto. Deste modo, o mesmo se amplia e revela saberes e sensações que poderiam ser desconhecidos pelo leitor, muitas vezes não experienciadas em sua própria vida. Se não há uma interação com a mensagem escrita, não há prazer. A leitura e a interpretação do texto literário podem exigir mais dedicação do leitor, tendo em vista que a linguagem literária não apresenta a objetividade da linguagem cotidiana. No entanto, o exercício de interpretação possibilita que nos tornemos leitores mais capacitados para compreender diversos tipos de textos.

Considerar que a literatura é uma linguagem da arte que não encontra correspondência nos dias atuais é errôneo. Além do texto poético tradicional, artistas contemporâneos criaram um novo conceito: a poesia digital, como continuidade da poesia concreta. E a produção musical segue forte em todo o mundo (as letras podemos considerar como poesia).

REFERÊNCIAS


GUIMARÃES, Thelma de Carvalho. Comunicação e linguagem. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2012.
______. Língua portuguesa I. São Paulo: Pearson Educationdo Brasil, 2014.
TERRA, Ernani. A produção literária e a formação de leitores em tempos de tecnologia digital. Curitiba: InterSaberes, 2015. 

RESUMO DO CAPÍTULO I (Leitura, Texto e Sentido) do livro KOCH, Ingedore V. e ELIAS, Vanda M. Ler e Compreender os Sentidos do Texto. São Paulo: Contexto, 2006.

 

RESUMO DO CAPÍTULO I (Leitura, Texto e Sentido) do livro KOCH, Ingedore V. e ELIAS, Vanda M. Ler e Compreender os Sentidos do Texto. São Paulo: Contexto, 2006.





Disciplina: ESTUDOS TEMÁTICOS DE LING. TEXTUAL

Nome do aluno: Fabio José Alfredo Santos da Rocha

Curso: Letras - Português / Literatura
Professora: GRAZIELA BORGUIGNON MOTA

AVA 2

 

 

 

RIO DE JANEIRO – RJ

 

2021

RESUMO: No primeiro capítulo, as autoras tratam da importância do hábito da leitura brevemente, depois entrando em diferentes respostas para a questão “o que é a leitura?”. Com o foco no autor (captação das ideias do autor), foco no texto (tudo já dito no texto) ou foco na interação autor-texto-leitor (interação e diálogo entre autor e leitor, privilegiando suas subjetividades). O leitor é mostrado como “construtor de sentido” do texto e se utiliza para isto de “seleção, antecipação, inferência e verificação”. A partir desta perspectiva de leitor construtor de sentido, há uma análise detalhada do texto “O retorno do patinho feio”, como foco na interpretação do mesmo como leitor ativo. O texto destaca também a importância dos objetivos do leitor, que reverberarão na forma como leitor lê o texto, levando em conta também os conhecimentos do leitor, base para a interação. Assim, se pode falar de UM sentido para um texto, não de O sentido. Essa pluralidade de sentidos depende do texto. Dá como exemplo um poema que pode ser lido de baixo para cima também e assim inverte o seu sentido. Como fatores de compreensão da leitura, traz a forma como o texto é feito, que pode exigir mais ou menos conhecimento de seu leitor. Analisando apenas o texto, há os aspectos materiais (textura do papel, fonte, etc.), fatores linguísticos (léxico, estruturas sintáticas complexas, ausência de pontuação etc.) e traz como exemplo a bula da novalgina antiga, mostrando depois como as bulas têm se tornado de menos difícil leitura. Finaliza com             a seguinte citação: “a compreensão não requer que os conhecimentos do texto e os do leitor coincidam mas que possam interagir dinamicamente”(Alliende & Condemarín, 2002)


PALAVRAS-CHAVE: leitura; interpretação; compreensão; leitor.

Inatismo, Comportamentalismo e Interacionismo - Resumo

O inatismo diz que o indivíduo nasce com um potencial definido, inato, que crescerá dentro de seus próprios termos, independente das influências externas, limitado. A educação de cada um dependeria totalmente de suas capacidades inatas.

comportamentalismo ressalta que o indivíduo é totalmente moldado por seu ambiente externo e que sua capacidade de adquirir conhecimento está ligada ao modo como foi "educado" para recebê-lo. Cada pessoa seria como uma "folha em branco" e sua educação dependendo totalmente de fatores externos. 

interacionismo é como uma mistura dos outros dois: tanto fatores externos quanto internos são importantes para o professor estabelecer sua prática de ensino. O papel do professor e da escola são mais importantes do que no comportamentalismo ou no inatismo. No interacionismo, o binômio professor-escola é o grande responsável por passar bem o conteúdo ao aluno, devendo este se adaptar aos níveis de conhecimento e capacidade de aprendizagem de cada um. Por ter sido educado num colégio Montessoriano, pretendo, como professor, implementar este método em minhas aulas.

Links interessantes:

https://www.educamaisbrasil.com.br/proposta-pedagogica/interacionista (Links para um site externo.)

https://www.educamaisbrasil.com.br/proposta-pedagogica/construtivista-cognitivista

Análise do conto AMOR, de Clarice Lispector

Análise do conto AMOR, de Clarice Lispector " O cego mascava chicles… Um homem cego mascava chicles. " Eis o choque da protagonist...